A more sensitive look for the world
Texto originalmente publicado em: “1+1=3” Exposição de Sylvia Furegatti, Hebert Gouvea e Pparalelo de Arte Contemporânea”. MACC / Editora Mundo Digital Eireli, SP. jun. 2015, bilingue, pags.5-8.
What the exhibitions of Sylvia Furegatti, Hebert Gouvea and Pparalelo have in common is that they are collaborative actions, thus understanding the artistic process as a free exchange among subjects. I understand the poetic creations shown here as metaphorical bodies, and more than that, organic entities that need to create exchange networks in order to eventually stand their ground in the world.
Based on these tangible sociability models, the artists sought to redirect their practices without giving up the technical expertise or production of objects, in particular in the cases of Furegatti and Gouvea, towards an intersubjective exchange process. The drawings under the “skin” of the plants, amid an archipelago, suspend the museum’s time and space as the coexistence and discovery with that organic collective are suggested, as with the camouflage, reflection and optical game aspect hovering over the prints from different matrices, thus creating an architectural dialogue with the space and the viewer’s body.
In all three exhibitions, the idea was to reduce strangeness and enhance collaborative practices by challenging the conventional territorial identity with a plural and polyphonic understanding of the subject. By emphasizing that Pparalelo is not a collective of artists, but rather a changing body created through ideas and donations from all members participating in that specific project, we are facing a major dilemma for visual arts in contemporary society: permanent or temporary members of Pparalelo end up stating that the artist does not operate as a “political artist”, but rather as an artist who “makes art politically”. If we intend to give art a role, it lies precisely in its ability to destabilize and criticize conventional (or distorted) representation and identity forms. Therefore, it has become clear in the collaborative actions of these artists that art indeed has no positive contents, but is the product of an intensely somatic form of knowledge: the exchange of gestures and expressions, and the complex relationships governing the communication among individuals and the way they are imprinted in the body.
The effect of the proposed collaborative practice, both in space and as a process, as well as the organic aspect that constitutes the works of these artists are elements reflecting on a state that is converted in an increasingly mature manner into the interdisciplinary nature of art, that is to say, perceiving the artistic phenomenon not only as an esthetic object, but fundamentally as a stimulus to generate some degree of self-reflection on the state of things in the world. Realizing the delicacy and body quality of the plants or fabric and drawing attention to the very exchange as creative praxis and a social exchange element allows us to at least to have a less harsh view of reality, and makes our eyes more sensitive to what happens around us. And that is definitely quite an achievement.
As exposições de Sylvia Furegatti, Hebert Gouvea e do Pparalelo possuem em comum o caráter de se constituírem como ações colaborativas, entendendo o processo artístico como um processo de doação entre sujeitos. Quero afirmar que entendo as criações poéticas aqui exibidas como corpos metafóricos, e mais do que isso, como entidades orgânicas que precisam estabelecer redes de troca para se constituírem finalmente como presença no mundo.
Com base nesses modelos tangíveis de sociabilidade, os artistas buscaram reorientar sua prática, sem abdicar da expertise técnica ou da produção de objetos em especial nos casos de Furegatti e Gouvea, em direção a um processo de troca intersubjetiva. Os desenhos sob a “pele” das plantas, em meio a um arquipélago, põem em suspenso o tempo e o espaço do museu pois nos é sugerido o convívio e a descoberta com aquele coletivo orgânico assim como acontece com o aspecto de camuflagem, reflexo e jogo óptico que paira sobre as estampas de diferentes matrizes, criando um diálogo arquitetônico com o espaço e o corpo do espectador.
Em todas as três exposições, o interesse foi diminuir o estranhamento e acentuar práticas colaborativas desafiando a territorialização da identidade convencional com uma compreensão plural e polifônica do sujeito. Ao enfatizarem que o Pparalelo não é um coletivo de artistas mas um corpo mutável que se faz através de ideias e da doação de todos que participam em torno daquele projeto momentâneo, ficamos diante de um dilema importante para as artes visuais na contemporaneidade: os participantes do Pparalelo, fixos ou temporários, acabam por afirmar que o artista não atua como “artista político”, mas como um artista que “faz arte politicamente”. Se pensarmos numa função para a arte, ela reside precisamente na sua habilidade de desestabilizar e criticar as formas convencionais (ou distorcidas) de representação e identidade. Portanto, ficaram evidentes nas ações colaborativas desses artistas que a arte não tem, de fato, qualquer conteúdo positivo, mas é o produto de uma forma intensamente somática de conhecimento: a troca de gesto e de expressão, e as complexas relações que regem a comunicação entre os indivíduos e a maneira pela qual elas são registradas no corpo.
O efeito da prática da proposta colaborativa, tanto espacial quanto processual, assim como o aspecto de organicidade que compõe os trabalhos desses artistas são elementos que refletem sobre um estado que se converte de forma cada vez mais madura sobre o caráter interdisciplinar da arte, isto é, perceber o fenômeno artístico não apenas como um objeto estético mas fundamentalmente como um estímulo que gera um grau de autorreflexão sobre o estado das coisas no mundo. Perceber a delicadeza e a qualidade corpórea das plantas ou dos tecidos e chamar a atenção para a própria troca como práxis criativa e elemento de câmbio social nos permite ao menos ter uma visão menos dura sobre a realidade, torna o nosso olhar mais sensível ao que acontece ao redor. E isso definitivamente não é pouca coisa.