Movidos pelo encontro bienal do Grupo de Estudio sobre Arte Público em Latinoamerica – GEAP LA, realizado em novembro de 2023, os artistas do grupo ppll projetaram a presente pesquisa artística que tinha na cidade de Havana, Cuba, seu ponto de interesse e destino final. A cidade e seu entorno, sua gente e sua arquitetura são verdadeiras lições de exuberância, latinidade e resiliência a friccionar o mundo ocidental de nossa época. O projeto elaborado no Brasil, durante as reuniões de trabalho do grupo ao longo daquele ano, levantou dados, imaginário, dúvidas e ansiedades pela possibilidade de (re)conhecer as vicissitudes daquele território e por sobre ele propor ações cotidianas na paisagem. O que a experiência final em Havana pode confirmar foi a distância das camadas da pesquisa e da práxis. O elemento processual que vem permeando a produção artística contemporânea evidência que os termos e o tempo entre estas duas camadas do fazer artístico são elementos fundamentais para os artistas interessados e impulsionados pela viagem e pela urbanidade.
Mundos de ilusão e realidade
painel impresso em sublimação sobre tecido
Nuestra manera de ser
livros de artista, fotografias, objetos e maquetes para intervenção urbana
De 15 de março
a 17 de maio de 2024
Painel expositivo e Projeto Estante de Livros e Cadernos de Artista
DAP – IA Unicamp
Rua Elis Regina, 50 Cidade Universitária – Zeferino Vaz, Campinas – São Paulo, Brasil
La Habana é tomada de contradições, antagonismos, completudes e complexidades. Quando a realidade não poderia ser ainda mais arrebatadora, a cidade nos revela vastos trechos de natureza que constituem parte significativa da experiência sedante que compõem a paisagem cubana. Bondia (2002) especula os significados do termo experiência e nos chama a atenção para sua raridade em um mundo que vive intensamente o excesso de informação. A rara qualidade da experiência neste mundo está, portanto_ segundo Bondia e o que pudemos perceber nessa viagem_ no atravessamento de nosso cotidiano; em tudo aquilo que nos acontece, e que absorvido nos convoca à atenção, à elaboração de sentimentos que se relacionam com o(s) modo(s) pelos quais a experiência se firma. Foi esse abarcamento de sentidos o que pudemos vivenciar nesta residência artística realizada em Cuba.
Cores e palavras, corpos e paisagem dirigiram nossas proposições do ponto urbano (1. pesquisa) até o ponto natureza (2. experiência). Este eixo definiu e revisou o trabalho continuado depois da visita, de volta ao cotidiano doméstico, gerando o formato final aqui apresentado tanto na Estante de Livros e Cadernos de Artista quanto no Painel Expositivo. Era importante que fossem os dois espaços ao mesmo tempo, a ecoar o embaralhamento de sentidos que nos acompanhou nesse processo. Os distintos tempos da experiência dessa paisagem nos conduziram ao elemento fotográfico que constitui os trabalhos. Essas peças, entre livro, objeto, dípticos fotográficos e propostas de intervenção urbana aproximam um amplo espectro de Eus-Outros imaginados ao lado de construções culturais que designam cores como lugares, e artisticamente viabilizam que se imaginem folhas e caules como ornamentos, estruturas de caixas d’agua como monumentos. As pérolas (falsas!) são talvez o melhor signo para esta experiência vivida: formam linhas indutoras do desenho das superfícies dos corpos e assim propõem a sua superposição ao entorno. Como pontos de luz que demarcam achados no terreno, em alguns casos, essas linhas-pérolas ou pontos-de-pérolas mimetizam os corpos e fazem do duo das espaldas uma única pessoa, como gentes em estado paralelo.